Às margens do Rio de Janeiro, a Pedra do Sal é uma pérola cultural da cidade maravilhosa.
Neste guia, embarcaremos juntos em uma jornada repleta de história e cultura, explorando as raízes históricas e os agitos contemporâneos que fazem deste local uma parada obrigatória para quem deseja vivenciar a autêntica energia carioca.
Das raízes históricas aos agitos contemporâneos, prepare-se para descobrir o que faz da Pedra do Sal um destino único. Vamos nessa?
Origem e História
Nos primeiros anos do século XVII, um grupo de pessoas oriundas da Bahia, buscando escapar das dificuldades econômicas resultantes do declínio na produção de fumo, estabeleceu-se no bairro da Saúde, no centro da cidade do Rio de Janeiro.
O local foi escolhido devido à acessibilidade econômica das moradias, que eram mais baratas, e às oportunidades de emprego no cais do porto, especialmente como estivadores.
A área, que antes era chamada de Pedra da Prainha passou a ser chamada de Pedra do Sal devido a sua história. Na época, era naquela área que todo o sal vindo da Europa chegava ao Rio de Janeiro.
Com o passar do tempo, o descarregamento de sal foi substituído pelo mercado de escravos, marcando uma mudança importante na dinâmica da região.
A movimentação intensa nesta região contribuiu para a construção das primeiras docas e trapiches significativos da cidade maravilhosa durante esse período.
No século XIX, a presença baiana já estava firmemente estabelecida, conferindo à Pedra do Sal uma de suas vocações mais marcantes: o fomento e fortalecimento da cultura afro-brasileira.
A comunidade negra, dessa forma, se concentrou ao redor da Pedra do Sal, onde buscava-se moradia barata e trabalho. Enquanto os homens trabalhavam no descarregamento de produtos do porto (sal, açúcar e outros), as mulheres, conhecidas como “tias”, eram responsáveis por preparar a comida nas pensões da região.
Os terreiros de candomblé também desempenharam um papel crucial nesse contexto, com o terreiro de João Alabá sendo um dos pontos mais simbólicos. O lugar passou a ser espaço dedicado às práticas religiosas afro-brasileiras.
Hilária Batista de Almeida, conhecida como “Tia Ciata”, emerge como uma figura essencial nos relatos sobre a origem do samba carioca.
Além de sambista, Tia Ciata era curandeira e mãe de santo, desempenhando um papel significativo no Brasil pós-abolição ao ser uma das principais incentivadoras do samba. Sua casa tornou-se um refúgio para reuniões de sambistas em uma época em que essa prática ainda era proibida por lei.
Em 1987, a Pedra do Sal foi tombada oficialmente como patrimônio material do estado do Rio de Janeiro. Esse tombamento pioneiro representou uma conquista significativa para o povo negro, que continua a lutar pelo reconhecimento histórico de seus territórios sagrados e pela preservação dos mesmos.
Onde fica a Pedra do Sal?
A Pedra do Sal está localizada no centro da cidade do Rio de Janeiro, Largo João da Baiana, na Rua Tia Ciata, bairro da Saúde, no início do Morro da Conceição.
Além da importância histórica, a Pedra do Sal ainda destaca-se pela arquitetura peculiar e pela fusão com a paisagem urbana. A escadaria esculpida na rocha cria uma atmosfera única, proporcionando aos visitantes uma experiência visual e sensorial incomparável.
Uma curiosidade é que, no início do século XX, tal rocha ficava à beira do mar. Hoje, devido aos aterros que são comuns no Rio de Janeiro, o mar está a mais de 400 metros do local. Essa mudança no perfil da área ao longo dos anos acrescenta uma camada adicional à narrativa do local.
O local tombado desde 1984 é conhecido como “Pequena África” e se estende do entorno da Praça Mauá até a Cidade Nova, área conhecida pela sua quantidade de quilombos e terreiros de candomblé.
Como chegar na Pedra do Sal?
Para chegar à Pedra do Sal, diversas opções de transporte estão disponíveis. Pode-se utilizar ônibus, metrô, táxi ou carros de aplicativo. Aqui vão algumas dicas:
De ônibus
De ônibus e saindo da Zona Sul (Leblon, Ipanema e Copacabana), a opção é pegar a linha 2017 (Rodoviária-Leblon). Trata-se de um ônibus especial, com ar condicionado e que parte do Leblon com uma frequência de 20 minutos. O horário do último ônibus é às 20:30h.
Deve-se pegar o ônibus no sentido Rodoviária e ir até o primeiro ponto da Rua Sacadura Cabral. Dependendo do horário de volta, recomenda-se retornar de táxi.
Alguns aplicativos, como o Moovit e o até o Google Maps, mostram o itinerário partindo de outros lugares, se necessário, consulte antes e veja a melhor rota para chegar à Pedra do Sal.
A depender do horário, recomenda-se considerar chamar um táxi na volta pra casa.
De táxi
Os táxis e carros de aplicativos são opções práticas e mais seguras. Existem pontos de táxi em ruas próximas, sendo fácil conseguir um carro tanto para chegar quanto na hora de ir embora.
De metrô
Caso opte por ir de metrô, algumas dicas:
Pegue o trem da Linha 1, sentido Uruguai, e desça na Estação Cinelândia. Esteja atento ao sair da plataforma e procure pela placa indicando a Saída C – Pedro Lessa.
Saindo da estação, vá até a parada Cinelândia do VLT e pegue sentido Praia Formosa, descendo na Parada dos Museus. Daí, caminhe alguns metros até a Pedra do Sal.
Valor histórico e cultural
A Pedra do Sal carrega consigo um valor histórico e cultural de grande relevância. Sua história remonta do século XVII e a mesma desempenhou um papel fundamental na preservação da cultura afro-brasileira.
Vários terreiros de candomblé, como o de João Alabá, e personalidades como a Tia Ciata, foram peças-chave na promoção das tradições religiosas e culturais africanas.
As reuniões de sambistas, realizadas no local, mesmo quando a prática ainda era proibida, foram cruciais para o desenvolvimento e propagação desse gênero musical e fazem com que hoje, a Pedra do Sal seja reconhecida como um dos berços do samba carioca.
Além da sua riqueza histórica, a Pedra do Sal continua a ser um espaço vivo de celebração cultural, com rodas de samba e eventos que mantêm a tradição e a autenticidade desse local, testemunhando a diversidade do povo brasileiro.
Samba e resistência
O samba foi proibido durante determinado período da história brasileira, tanto na Pedra do Sal quanto em outros locais.
No início do século XX, especialmente nas décadas de 1920 e 1930, o samba era associado à cultura afro-brasileira e à comunidade negra, gerando preconceitos e estigmatização por parte das elites e das autoridades da época.
Visto como uma expressão cultural que desafiava as normas sociais vigentes, especialmente porque suas raízes estavam profundamente ligadas à cultura afro-brasileira e influenciada pelas tradições africanas trazidas pelos escravizados.
Nesse sentido, as rodas de samba e as festividades associadas a essa prática eram consideradas subversivas e, portanto, proibidas por leis que buscavam controlar e restringir essas manifestações culturais.
Apesar das proibições, a comunidade persistiu na promoção das rodas de samba, contribuindo para sua aceitação e consolidação como um dos elementos mais distintivos e importantes da cultura brasileira.
A resistência cultural desempenhou um papel crucial na transformação das percepções sociais em relação ao samba, e hoje ele é celebrado como uma expressão artística emblemática de nosso país.
Segunda-feira na Pedra do Sal
A Pedra do Sal é conhecida por suas animadas rodas de samba que acontecem principalmente às segundas-feiras. Essa tradição transformou as segundas no local em uma referência para os amantes de música e cultura brasileira.
Durante as noites do primeiro dia da semana, a Pedra do Sal ganha vida com a presença de músicos, sambistas e visitantes que se reúnem para desfrutar de performances de samba ao vivo.
As rodas de samba são informais e acolhedoras, proporcionando uma atmosfera descontraída e autêntica. A música ao vivo, a dança e a alegria são contagiantes e criam uma experiência única para os presentes.
Mas porque às segundas-feiras?
Historicamente, muitos trabalhadores tinham a segunda como um dia de folga, especialmente aqueles que estavam envolvidos nas atividades portuárias, como é o caso da maioria dos trabalhadores que habitavam as redondezas da Pedra do Sal.
Acredita-se também, à época, o samba, sendo marginalizado e associado a espaços menos formais, tenha levado à escolha da segunda-feira como o dia propício para as reuniões na Pedra do Sal. Essa decisão possivelmente visava proporcionar à comunidade um momento de encontro sem a interferência excessiva das autoridades.
Recomenda-se verificar outras fontes e/ou fontes locais e informações atualizadas para obter mais detalhes sobre as atividades específicas, já que a dinâmica cultural pode variar.
Bafo da Prainha
O Bafo da Prainha refere-se a um evento cultural e musical que ocorre periodicamente na Pedra do Sal. A expressão “bafo” é um gíria em português que pode significar algo como “agito” ou “movimento”. A “Prainha” diz respeito à antiga denominação da área onde está localizada a Pedra do Sal.
O evento “Bafo da Prainha” se refere justamente às rodas de samba que acontecem tradicionalmente em determinados dias da semana, especialmente às segundas-feiras, na Pedra do Sal.
A roda de samba é caracterizada por apresentações musicais informais, onde músicos e cantores se reúnem para tocar e cantar samba, proporcionando assim, uma atmosfera animada e descontraída.
Essas atividades culturais da Pedra do Sal são parte integrante da rica tradição do samba carioca e o “Bafo da Prainha” se destaca como uma celebração autêntica de expressão cultural e de resistência de um povo.
Outras curiosidades sobre a Pedra do Sal
Como medidas necessárias para os tempos atuais, a Pedra do Sal também vem sendo um espaço de promoção da preservação ambiental. Algumas iniciativas locais têm buscado equilibrar o aumento da atividade cultural com a sustentabilidade ambiental.
Entender como a comunidade está engajada na conservação da área, através de projetos de plantio de árvores ou limpeza de resíduos, oferece uma perspectiva adicional sobre o compromisso com o meio ambiente.
A região também é conhecida pela sua culinária afro-brasileira. Ao explorar os arredores, os visitantes podem encontrar restaurantes e bares que oferecem pratos autênticos inspirados na tradição gastronômica da comunidade local.
A experiência gastronômica adiciona mais uma dimensão importante à visita, permitindo que os visitantes não mergulhem apenas na música, mas também nos sabores da cultura.
A Pedra do Sal também é palco para uma variedade de eventos culturais contemporâneos. Exposições de arte, apresentações teatrais ou workshops que destacam a história da cultura afro-brasileira ao longo do tempo.
Além disso, algumas iniciativas culturais que visam disseminar o conhecimento sobre a história da Pedra do Sal e sua relevância cultural são fundamentais.
Projetos que envolvem a comunidade local, escolas e visitantes na promoção da conscientização histórica podem ser destacados, mostrando como a preservação vai além do aspecto físico e abraça a educação como uma ferramenta vital.
Esses aspectos adicionais destacam não apenas a importância histórica da Pedra do Sal, mas também como ela continua a evoluir como um espaço cultural dinâmico, conectando passado, presente e futuro de maneiras inspiradoras.
A Pedra do Sal se revela como um tesouro cultural multifacetado enraizado no Rio de Janeiro e na rica herança afro-brasileira. Além de sua importância histórica e cultural, a Pedra do Sal transcende as expectativas ao integrar a preservação ambiental, culinária autêntica e eventos contemporâneos em sua narrativa.
A fusão única entre passado e presente se manifesta nas animadas rodas de samba às segundas-feiras, honrando a resistência cultural que transformou um gênero proibido em uma expressão artística celebrada.
Ao visitar a Pedra do Sal, os exploradores estão destinados a vivenciar uma jornada única, onde as raízes históricas se entrelaçam harmoniosamente com a pulsante cultura contemporânea, mantendo viva a autêntica energia carioca.